Morreu, aos 95 anos, o líder histórico da luta contra o regime de "apartheid" sul-africano, que vigorou no país de 1948 a 1993. Prêmio Nobel da Paz, Mandela foi um lutador pela democracia e contra a discriminação. O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela morreu nesta quinta-feira (5), aos 95 anos, anunciou o presidente do país, Jacob Zuma. "Eu lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais", disse, um dia, Mandela.
Mandela
ficou internado de junho a setembro devido a uma infecção pulmonar,
provavelmente resultante de sequelas de uma tuberculose que contraiu durante
sua detenção na prisão de Robben Island, onde ficou 18 anos preso, de 1964 a
1982.
Ele
deixou o hospital e estava em casa. "Ele partiu, ele se foi pacificamente
na companhia de sua família", afirmou o presidente. "Ele descansou,
ele agora está em paz. Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu
seu pai."
El
foi internado quatro vezes desde dezembro de 2012. Em março de 2012, o
ex-presidente sul-africano havia sido hospitalizado por 24 horas, e o governo
informou, na ocasião, que Mandela tinha sido internado para uma bateria de
exames rotineira.
No
total, Mandela ficou preso durante 27 anos e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em
1993, sendo eleito em 1994 o primeiro presidente negro da África do Sul, nas
primeiras eleições multirraciais do país.
Biografia
de "Madiba"
Mandela
nasceu em 18 de julho de 1918 no clã Madiba no vilarejo de Mvezo, no antigo
território de Transkei, sudeste da África do Sul. Seu pai, Henry Gadla
Mphakanyiswa, era chefe do vilarejo e teve quatro mulheres e 13 filhos - Mandela
nasceu da terceira mulher, Nosekeni. Seu nome original era Rolihlahla Mandela.
Nascido
numa família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior onde
possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, abandonou este destino aos 23
anos ao seguir para a capital Joanesburgo e iniciar atuação política. Passando
do interior rural para uma vida rebelde na faculdade, transformou-se em jovem
advogado na capital e líder da resistência não-violenta da juventude em luta,
acabando como réu em um infame julgamento por traição, foragido da polícia e o
prisioneiro mais famoso do mundo, após o qual veio a se tornar o político mais
galardoado em vida, responsável pela refundação de seu país - em moldes de
aceitar uma sociedade multiétnica.
Foi
o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista do Apartheid,
sistema racista oficializado em 1948, e modelo mundial de resistência. No dizer
de Ali Abdessalam Treki, presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, foi
"um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo".
Da
aldeia à universidade
Após
seu pai morrer em 1927, ele foi acolhido pelo rei da tribo, Jongintaba
Dalindyebo. Ele cursou a escola primária no povoado de Qunu e recebeu o nome
Nelson de uma professora, seguindo uma tradição local de dar nomes cristãos às
crianças. Conforme as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedade aos 16
anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudou cultura ocidental. Na
adolescência, praticou boxe e corrida.
Mandela
ingressou na Universidade de Fort Hare para cursar artes, mas foi expulso por
participar de protestos estudantis. Ele completou os estudos na Universidade da
África do Sul. Após terminar os estudos, o rei Jongintaba anunciou que Mandela
devia se casar, o que motivou o jovem a fugir e se mudar para Johanesburgo, em
1941.
Em
Johanesburgo, ele trabalhou como segurança de uma mina e começou a se
interessar por política. Na cidade, Mandela também conheceu o corretor de
imóveis Walter Sisulu, que se tornou seu grande amigo pessoal e mentor no
ativismo antiapartheid. Por indicação de Sisulu, Mandela começou a trabalhar
como aprendiz em uma firma de advocacia e se inscreveu na faculdade de direito
de Witwatersrand.
ANC
Mandela
começou a frequentar informalmente as reuniões do Congresso Nacional Africano (ANC,
na sigla em inglês) em 1942. Em 1944, ele fundou a Liga Jovem do Congresso e se
casou com a prima de Walter Sisulu, a enfermeira Evelyn Mase. Eles tiveram
quatro filhos (dois meninos e duas meninas) – uma das garotas morreu ainda na
infância.
Em
1948, ele se tornou secretário nacional do Congresso Nacional Africano (ANC) –
no mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a
implementar a política de apartheid (ou segregação racial). O estudante
conheceu futuros colegas da política na faculdade, mas abandonou o curso em
1948, admitindo ter tido notas baixas - ele chegou a retomar a graduação na
Universidade de Londres, mas só se formou em 1989 pela Universidade da África
do Sul, quando estava preso.
Em
1951, Mandela se tornou presidente do ANC. Em 1952, ele abriu com o amigo
Oliver Tambo o primeiro escritório de advocacia do país voltado para negros. No
mesmo ano, Mandela foi escolhido como líder da campanha de oposição encabeçada
pelo CNA e viajou pelo país, em protesto contra seis leis consideradas
injustas. Como reação do governo, ele e 19 colegas foram presos e sentenciados
a nove meses de trabalho forçado.
Em
1955, ele ajudou a articular o Congresso do Povo e citava a política pacifista
de Gandhi como influência. A reunião uniu a oposição e consolidou as ideias
antiapartheid em um documento chamado Carta da Liberdade. No fim do ano,
Mandela foi preso juntamente com outros 155 ativistas em uma série de detenções
pelo país. Todos foram absolvidos em 1961.
Em 1958, Mandela se divorciou da enfermeira Evelyn Mase e ele se casou novamente, com a assistente social Nomzamo Winnie Madikizela. Os dois tiveram dois filhos.
Em 1958, Mandela se divorciou da enfermeira Evelyn Mase e ele se casou novamente, com a assistente social Nomzamo Winnie Madikizela. Os dois tiveram dois filhos.
Em
março de 1960, a polícia matou 69 manifestantes desarmados em um protesto
contra o governo em Sharpeville. O Partido Nacional declarou estado de
emergência no país e baniu o CNA. Em 1961, Mandela tornou-se líder da guerrilha
Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação), após ser absolvido no processo da prisão de
1955. Logo após a absolvição, ele e colegas passaram a trabalhar de maneira
escondida planejando uma greve geral no país.
Ele
deixou o país ilegalmente em 1962, usando o nome de David Motsamayi, para
viajar pela África para receber treinamento militar. Mandela ainda visitou a
Inglaterra, Marrocos e Etiópia, e foi preso ao voltar, em agosto do mesmo ano.
De acordo com o jornal "Telegraph", a organização perdeu o ideal de
protestos não letais com o tempo e matou pelo menos 63 pessoas em bombardeios
nos 20 anos seguintes.
Prisão
Mandela
foi acusado de deixar o país ilegalmente e incentivar greves, sendo condenado a
cinco anos de prisão. A pena foi servida inicialmente na prisão de Pretória. Em
março de 1963, ele foi transferido à Ilha de Robben, voltando a Pretória em
junho. Um mês depois, diversos companheiros de partido foram presos.
Em
1963, Mandela e outras nove pessoas foram julgadas por sabotagem, no que ficou
conhecido como Julgamento Rivonia. Sob o risco de ser condenado à pena de
morte, Mandela fez um discurso à corte que foi imortalizado.
"Eu
lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei
o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem
juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu
espero viver e alcançar. Mas se for necessário, é um ideal pelo qual estou
preparado para morrer", afirmou.
Em
1964, Mandela e outros sete colegas foram condenados por sabotagem e
sentenciados à prisão perpétua. Um deles, Denis Goldberg, foi preso em Pretória
por ser branco. Os outros foram levados para a Ilha de Robben.
Mandela
passou 18 anos detido na ilha de Robben, na costa da Cidade do Cabo, e nove na
prisão Pollsmoor, no continente – a transferência ocorreu em 1982. Enquanto
esteve preso, Mandela perdeu sua mãe, que morreu em 1968, e seu filho mais
velho, morto em 1969. Ele não foi autorizado a participar dos funerais.
Durante
o período em que ficou preso, sua reputação como líder negro cresceu e
sedimentou a imagem de liderança do movimento antiapartheid. A partir de 1985,
ele iniciou o diálogo sobre sua libertação com o Partido Nacional, que exigia
que ele não voltasse à luta armada. Neste ano, ele passou por uma cirurgia na
próstata e, ao voltar para a prisão, passou a ser mantido em uma cela sozinho.
Em
1988, Mandela passou por um tratamento contra tuberculose e foi transferido
para uma casa na prisão Victor Verster. Em 2 de fevereiro de 1990, o presidente
sul-africano Frederik Willem de Klerk reinstituiu o Congresso Nacional Africano
(ANC). No dia 11 de fevereiro de 1990, Mandela foi solto e, em um evento
transmitido mundialmente, disse que continuaria lutando pela igualdade racial
no país.
Prêmio
Nobel da Paz
Em
1991, Mandela foi eleito novamente presidente do ANC. Nelson Mandela e Frederik
de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993, por seus esforços para trazer
a paz ao país.
Mandela
encabeçou uma série de articulações políticas que culminaram nas primeiras
eleições democráticas e multirraciais do país em 27 de abril de 1994.
O
ANC ganhou com 62% dos votos, enquanto o Partido Nacional teve 20%. Com o
resultado, Mandela tornou-se o primeiro líder negro do país e também o mais
velho, com 75 anos. Ele tomou posse em 10 de maio de 1994. A gestão do
presidente foi marcada por políticas antiapartheid, reformas sociais e de
saúde.
Em
1996, Mandela se divorciou de Nomzamo Winnie Madikizela por divergências
políticas que se tornaram públicas. Em 1998, no dia de seu 80º aniversário, ele
se casou com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente
moçambicano.
Em
1999, não se candidatou à reeleição e se aposentou da carreira política. Desde
então, ele passou boa parte de seu tempo em sua casa no vilarejo de Qunu, onde
passou a infância, na província pobre do Cabo Leste.
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